quarta-feira, março 31, 2010

De Liberté en Liberté




Na radio France

Com meu livro no estande


no estande do Brasil
Com professor DALMO DALLARI que visitou o estande


Na hora da minha apresentação


Com Diva e Nicola Pavesi no hotel Holiday Inn

Com Athanase de Tracy - no restaurante Cardinal
Com Marc Galan no evento
Com o painel



Pois é.
Consegui.
Meu livro de liberté em liberté - já segue com vida própria. Nos próximos dois anos chegará ao mercado alemão, espanhol e búlgaro.
Agradeço a Deus - em primeiro lugar e aos meus pais - in memoriam, que insistiram e tudo fizeram para que eu seguisse o curso dos meus sonhos.
À minha familia - o incondicional apoio e a força para continuar ainda que os bolsos estejam vazios.
Agradeço a Diva Pavesi que levou meu livro - que já tivera primeira edição na França - ao editor da Yvelinédition - François.

Acima de tudo agradeço - em especial - ao Athanase Vantchev de Tracy e a Marc Galan -meus tradutores - que confiaram em mim e na minha poesia nos idos de 2007.
Delasnieve Daspet
Advogada, Poeta, Humanista.

sábado, março 20, 2010

Apenas uma chuva de verão

Apenas uma chuva de verão

Delasnieve Daspet


Minha primavera.
Meu verão.
Gostaria que estivésseis aqui.
Tua voz, - queria ouvir outra vez!
Te ouvir com conversa de verão.
Dizendo que me ama.
Que me quer.
Que precisa de mim.
Que me quer ao seu lado.
Que sem mim não pode viver!..




Te mirei como primavera em flor.
Te chamei de meu arco-íris.
Achei que minha busca findara.
Que meu mundo seria sem noites!



Pois tu estarias ao meu lado,
Me abraçando. Me amando.
Levando-me da solidão!



Mas a resposta estava aqui
O tempo todo
Momentos maravilhosos de amor e paixão.
Te cantei em versos e prosa
Te fiz meu. Me fiz tua.
Num poema torto, sem rima.



A primavera não existiu!
E agora, olhando o sol, pude sentir
Que tinha de ser assim:
Apenas uma chuva de verão...
Rápida... Quente.... Em mangas,
Própria da estação...


Un autre jour se lève - Outro dia surge - Delasnieve Daspet

Un autre jour se lève.

Delasnieve Daspet

Il n'est de meilleur moment
Que le temps présent.
La nuit est belle,
Pleine d’étoiles, agréable,
Et je veux parler

J'ai marché à pas lents.
Je n'ai pas couru derrière le succès…
Jamais je n’ai arrêté de penser

A tout ce que je devais perdre
Si je me laissais aller.

Un autre jour se lève.
J'ouvre les fenêtres de mon âme
Pour vivre la vie
De vérité.

Je suis lasse de ne faire qu’errer,
De combattre des moulins à vent,
Je vois le soleil qui se couche et je comprends, enfin,
Que, quelque soit la route que je suive,
J'ai besoin de moi,

De moi toute entière !

Je n'ai pas besoin d’autres preuves.
Je peux respirer librement
L’air des vents qui vont et viennent.

Je jette des pierres dans le lac
Et noie dans le labyrinthe des eaux
Les rêves qui me font tenir.

Outro dia surge
Delasnieve Daspet

Não existe tempo melhor
Que o presente.
A noite está linda,
Estrelada e agradavel,
E eu quero falar.

Andei devagar.
Nem fiz muita questão de ganhar...
Nunca parei para pensar
Do tanto que tinha a perder
Por me abandonar.

Outro dia surge.
Abro as janelas de minh´alma
Para viver a vida
De verdade.

Cansei de apenas vagar,
De combater moinhos de vento,
Vendo o por do sol entendo,
- finalmente -
Que por qualquer estrada que eu siga
Preciso de mim, inteira!

Não necessito outras provas.
Posso respirar e aspirar
Os ventos que vem e que vão.

Jogo pedras no lago
E afundo no labirinto das águas
Os sonhos que me mantém.

( Do livro de Liberté en Liberté )

quarta-feira, março 17, 2010

Exercício de sedução

Exercício de Sedução
Delasnieve Daspet



Acusei a força do olhar...
Fitando-me o próprio Apolo...
Teriam os deuses descido do Olimpo?


Olhei de soslaio.
Que belo espécime.
Produto bem acabado.
Iso de qualidade,
não resta qualquer dúvida.


Já passava dos cinqüenta.
Bonito. Com atitude.
Bem vestido. Coisa rara. Perfeito.
Daqueles que olham a mulher com profundidade...


Estava sentado a mesa na minha frente.
Acompanhado, claro!
Eu já tinha terminado o almoço
mas ficara no recinto.


Sorvia o resto do vinho,
gota a gota. Bebia e olhava para ele.
Ele também olhava. Para mim.


Mordi de leve os lábios para fazer charme.
Coloquei a colher levemente na boca,
suavemente passei a língua pelos lábios...
Olhos semicerrados. Mas, olhando, olhando...
Ele acusou o golpe de sensualidade.


O vinho acabou.
A sobremesa também.
Tinha de ir.
Passei por ele deixando um rastro de sim...
Paguei a conta e sai.


Ele nunca saberá quem sou.
Eu nunca esquecerei dele.
Foi um exercício de sedução..
Reaprendendo...
DD_12-04-04 -Campo Grande MS

segunda-feira, março 15, 2010

Espelho, espelho meu!

Espelho, Espelho Meu!

Delasnieve Daspet

Se a beleza fosse

condição absoluta para a felicidade

poucos seriam os felizes

na face da terra.

Muitos " bonitos" de plantão

não se liberam da sensação de feiúra

e vivem infelizes.

A visão de cada um

vai além da imagem refletida

no espelho.

O que conta são nossas vivências

o retrato mental que fazemos de nós

e da interpretação que damos

aos padrões sociais estabelecidos.

A beleza não é um conceito cultural.

Ela segue conceitos além

de rostinhos bonitos.

DD_ 26-11-02 Campo Grande MS


domingo, março 14, 2010

Dizer Adeus




Dizer Adeus

Delasnieve Daspet

Adeus.
Fecho o livro,
Baixo a cortina,
Apago a luz.
Encosto a porta,
O sino dobra,
Saio agora.

Dizer adeus torna tudo tão real,
A verdade perfeita na palavra sutíl
De cinco letras.

Digo adeus,
Para depois, não sentir a ausência...
Pois, a razão da dor, é o não se despedir.

Talvez te veja um dia...
Ou quem sabe, mais tarde,
Quando o tempo do verbo já for passado...

Consciente ou inconsciente
Somos páginas viradas do fim anunciado...
Adeus!

Pré-Conferência - Livro, leitura e literatura - momentos

no museu Nacional
apresentando nossas propostas
entregando ao Tonhão as propostas do FESC/MS
com Tonhão
representante indígena da Bahia
com representante indígena da Raposa Serra do Sol
recepção do evento
com a ativa NEIDA ROCHA - representante do RS
circo de refeições
Afonso Romano Sant´Anna
Poeta do Amapá - Barca da Leitura
momento da turma da literatura
Eu com o ministro Juca Ferreira - aproveitei
e cobrei o espaço no Centro-Oeste do escritório do MINC
No Museu Nacional
No museu Nacional
Tchello de Barros e a Eunice Franco
Brígido - Marley - DD - Nelson

sábado, março 13, 2010

O poema que ressoa em mim

O poema que ressoa em mim

Delasnieve Daspet


Sem aviso, surgistes.
É tudo tão novo, como o dia,
que começa bem cedo.
Não sei o que acontece...
A estrada parecia tão longa,
de repente, sinto-me em casa.

Duas vidas.
Dois mundos.
Me estendestes a mão e o coração.
Que sei agora?
Quem somos?
Quem sou eu?
Quem és tu?

Estava tão só até tua chegada,
Poema, perdido, que ressoa em mim!
E volito... me dispo, mundana,
escrava que sou de teu poder...
Assumo outro eu, sonhador,
que vive, no abissal mundo, que sou.

Me entrego a ti, palavra,
perdida, solta, cheia de vida,
tantas vidas, sou eu, em mim...

CAMPO GRANDE MS
27 DE MAIO DE 2004.

Vozes da Manhã


Vozes da Manhã...
Delasnieve Daspet - 06-05-07

Logo cedo , aqui na minha terra,
Brilha o sol, o céu é azul e uma suave brisa balança
A primavera da minha janela...


(Tenho quatro pés de primaveras em meu quintal),
E os pássaros pela manhã
Me chamam para a ração matinal...

Sim, todos os dias, as seis horas, chovendo ou não,
Dou um punhado de ração e os deixo a vontade...
Não imaginas a bagunça que fazem...

Temos bem-te-vis - pardais, chupins, alguns beija-flores
( estes não se misturam ) chegam as onze horas,
Quando a rosa malva se abre à vida,
E, amantes que são - lhe cede a seiva...

No poste de luz - arrulha a pomba-branca,
Um quero-quero madrugador já no seu
posto de sentinela me informa
quando alguém se aproxima...

É tanta vida que rumoreja nas folhas
das paineiras da praça....
Que a quaresmeira envergonhada
fica escarlate e altaneira se balança!

Um grito corta o horizonte...
Um não, dois, três, quatro,
Milhões em minha mente,
São as araras azuis que chegam para o café da manhã
Nas inúmeras palmeiras da bela Morena!

Caminham ao meu lado " jaguás de rua",
Na padaria " Das Garças" o cheiro do pãozinho
Maltrata...

Sim , aqui neste pequeno canto
Vivemos a paz,
E, e é esta mesma mas que lhes desejo
Neste lindo domingo que se faz cada vez mais azul

sábado, março 06, 2010

Sou Mulher!




Sou Mulher! ( Sonhos Mais Íntimos )
Delasnieve Daspet


Não há um instante.
Não há um momento.
Nem o suave sussurro da brisa.
Nem as saudades que sobraram
De andanças antigas,
Me deixam esquecer
Que sou vento. Que sou terra.
Que sou canto.Que sou quimera!



Que tenho no corpo o cheiro da noite.
Nos lábios o gosto do mato.
Nas entranhas, o mel silvestre,
E no olhar orvalhado trago o
Doce e meigo luar do sertão!



Sou humilde flor pequenina
Que se abre pela manhã
À espera do sol
P'ra desabrochar seu amor!



Sou o sertão.
Sou o sabiá que canta
No galho da mangueira.
Sou a chuva que pinga e respinga
Molhando a terra seca
Que faz florescer a roseira!



Sou o cheiro da terra molhada,
Da fantasia alucinante,
Dos rios, cascatas, pântanos,
Sou o verso único e maior
do poeta sonhador!



Sou a mentira. O sonho. A ilusão.
Sou a verdade da lágrima
No bom dia que raia!



Sou a canção de ninar.
Sou a agulha do bordado.
Sou a broa quentinha,
Sou o fogo no chão,
Sou paixão.



Sou o teu lugar vazio.
Sou a melancolia.
Sou a ausência total
Dos movimentos e de vozes!




Sou companheira. Sou parceira.
Que mais queres de mim,
Se já sou tu e não eu?



E na saudade que nos afasta
Sou a lembrança
Dos sonhos mais íntimos!
DD_ 27 de agosto de 2001
Campo Grande MS



Dia da Mulher







Ser-Mulher!
Delasnieve Daspet


Num planeta comum
convivendo entre todos os seres
a mulher que se aceita mulher,
cultivando os traços próprios,
gera vida. É mãe!

Mas só gerar vida - não adianta!
Tem de gerar e assumir,
gerar e educar, gerar por amor,
gerar na riqueza e na pobreza,
dar e ser amor!

É essa a mulher que reverencio.
Essa que não se acovarda,
mãe, que trasmite ao ser que cria,
no carinho e atenção possiveis,
todo o amor que, ainda, pode ser.

Reverencio esse ser-mulher,
que não deixa faltar um sorriso feliz,
um olhar alegre que dá sentido a vida.

Penso em ti, mulher, com enorme
gratidão, pois se estou aqui,
te reverenciando, é porque me amastes,
me gerastes, me destes vida,
assumistes ser mulher!
DD_11-05-04- Campo Grande MS

Being a woman
Delasnieve Daspet

On a common planet
Living among the other beings
the woman who accepts to be a woman,
accepting the way she is.
This woman creates life.
This woman is a mother!


But, to create life is too little!
You’re supposed to generate and assume it
Generate and bring up, generate for love,
Generate on wealth and on poverty,
You’re supposed to give love and to be The Love!


This woman is the one I honor.
This one who is always brave,
Mother, who shows all the love she can feel
And all the love she can be.



I honor this being-mother,
Who always has a happy smile on her face
Who always shows happiness on her eyes
in a way that always makes sense on life


I think about you, woman, with a tremendous gratitude
If am here, honoring you, is because
you loved me, you generated me,
you give me my life.
But, above all, you accepted to be a woman


tradução interpretativa de Cleusa Bechelani

Dia da Mulher



Ser-Mulher!
Delasnieve Daspet
Num planeta comum
convivendo entre todos os seres
a mulher que se aceita mulher,
cultivando os traços próprios,
gera vida. É mãe!
Mas só gerar vida - não adianta!
Tem de gerar e assumir,
gerar e educar, gerar por amor,
gerar na riqueza e na pobreza,
dar e ser amor!
É essa a mulher que reverencio.
Essa que não se acovarda,
mãe, que trasmite ao ser que cria,
no carinho e atenção possiveis,
todo o amor que, ainda, pode ser.
Reverencio esse ser-mulher,
que não deixa faltar um sorriso feliz,
um olhar alegre que dá sentido a vida.
Penso em ti, mulher, com enorme
gratidão, pois se estou aqui,
te reverenciando, é porque me amastes,
me gerastes, me destes vida,
assumistes ser mulher!
DD_11-05-04- Campo Grande MS
Lenon - Woman.

Being a woman

Delasnieve Daspet

On a common planet

Living among the other beings

the woman who accepts to be a woman,

accepting the way she is.

This woman creates life.

This woman is a mother!

But, to create life is too little!

You’re supposed to generate and assume it

Generate and bring up, generate for love,

Generate on wealth and on poverty,

You’re supposed to give love and to be The Love!

This woman is the one I honor.

This one who is always brave,

Mother, who shows all the love she can feel

And all the love she can be.

I honor this being-mother,

Who always has a happy smile on her face

Who always shows happiness on her eyes
in a way that always makes sense on life

I think about you, woman, with a tremendous gratitude

If am here, honoring you, is because

you loved me, you generated me,

you give me my life.

But, above all, you accepted to be a woman

tradução interpretativa de Cleusa Bechelani

quinta-feira, março 04, 2010



SÉRIE: AUSENCIAS...





Um dia sem fim!

Delasnieve Daspet




Finalmente o silêncio...

Andei até a janela,

Deixei que a cabeça pendesse contra a vidraça,

O tempo se fazia extremamente curto...



Fitava a imensidão que se descortinava,

Do olhar se desprendia tanta saudade...

Tempo de partida, de adeus...



De novo nos veremos onde as

Perfeitas alegrias se encontram...

Falo de eternidade,

Do espaço entre as existências!



O por de sol e a estrela da noite

Chamam por mim...

Como é triste e solitário ter tudo e nada ter...



Quão lentamente os dias transcorrem,

Lua e noite – ambas,

Serão um dia sem fim!

DD_19.01.10 – Campo Grande – MS

( Da série – Ausências...)

BRASIL BOIADEIRO

















quinta-feira, 4 de março de 2010

Expedição Mato Grosso do Sul

Em 18 de Fevereiro, uma quarta-feira de cinzas, rumamos novamente para o Mato Grosso do Sul, dessa vez com a equipe completa, fotografo e produtor: eu e Marcos Vargas, responsáveis pelo documentário fotográfico, repórter, cinegrafista e sonoplasta do Canal Rural: Cássio, Demétrio e Clóvis, encarregados do documentário para TV dessa emissora.
Fomos recebidos em Campo Grande por Delasnieve Daspet, Marley Sigrist, Edílson Aspet e Nelson Vieira. Em 19/02 a equipe entrevistou Nilde Brun, da Fundação de Turismo, e Américo Calheiros, Secretário de Cultura do Estado. Durante a noite assistimos e registramos uma apresentação do Grupo de Dança Camalote*, que trouxe em sua coreografia danças folclóricas como Catira, Siriri e Xamamé.
O Canal Rural entrevistou a Chefe de Cozinha Dedé que, em parceria com o Chefe Paulo Machado, desenvolveu um projeto de preservação das receitas tradicionais da gastronomia pantaneira, já citado por mim nesse blog.
Recebemos, ainda em Campo Grande, um novo integrante em nosso grupo, Dalfran, que dirigiu a Van, que foi colocada a serviço de nosso projeto pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e que nos levou à Fazenda Cacimba de Pedra, que foi nossa Base de trabalho no Pantanal, até o final da expedição em 28/02.
Nessa etapa o projeto contou ainda com o apoio de um avião, oferecido pelo Governo do Estado, que nos possibilitou captar imagens aéreas, que farão com que os expectadores de nosso trabalho tenham uma idéia melhor da geografia do Estado de Mato Grosso do Sul, além de nos viabilizar a chegada em locais sem acesso por terra, devido ao período de cheia do Pantanal. Ganhamos assim novos companheiros de equipe: Capitão Ênio, Capitão Katiane, Soldado Jardel e, mais tarde, o Tenente Amador. Sob o comando do Capitão Ênio, eram esses os responsáveis por nossas missões aéreas.
Agradecemos a especial atenção que nos dispensou a Coordenadoria de Policiamento Aéreo e seu coordenador geral, Coronel José Tadeu.
Vivemos ótimas experiências juntos e do ar conseguimos visualizar o que em teoria haviam nos passado: que existem diversos e diferentes pantanais, cada qual com seus ciclos de cheia e seca. Enquanto nas Fazendas: Piúva, Cacimba de Pedra, 23 de Março e Santa Cruz o solo estava seco, na Rio Vermelho apenas a casa sede, pista de pouso e algumas poucas elevações estavam fora d’água. Nessa ultima fazenda passamos por uma situação surreal, aos olhos urbanos de muitos, nosso avião encalhou no terreno molhado da pista de pouso, creio que poucos ouviram falar na difícil tarefa que tivemos: desencalhar um avião.
Não bastando isso, fomos levados à sede da fazenda em um barco puxado por mula. Um meio de transporte muito usado pelo pantaneiro, na cheia, pois com apenas um animal pode-se transportar várias pessoas e objetos, seria algo como uma carroça fluvial, ali chamada de “barco chinchado”**.
Nessa situação o gado fica, durante a noite, nas elevações secas e delas sai pelo terreno alagado durante o dia para pastar da vegetação submersa ou com as pontas fora d’água. Os bezerros em amamentação permanecem em terra firme e suas mães retornam do pastoreio, de tempos em tempos, para os amamentar. Predomina nessa paisagem o gado nelore*** e é incrível observar como esse animal se adaptou plenamente a essa situação e passa por esse período adverso com ótima condição de saúde, parecendo ter, essa raça bovina, origem pantaneira.
Sobrevoamos também a Serra do Amolar, um maciço rochoso que se eleva ao norte do Panatanal de Mato Grosso do Sul e que recebeu esse nome por ter em seu solo pedras que se prestam a amolar facas ou ferramentas. Uma paisagem de tirar o fôlego por sua beleza, tanto que nos adiantamos no horário sendo-nos impossível retornar à Fazenda, cuja pista de pouso não dispõe de iluminação noturna.
Pernoitamos em Corumbá e lá conhecemos o trabalho do Instituto Homem Pantaneiro. Seu presidente, Rubens de Souza, nos mostrou um prédio histórico, próximo ao Porto de Corumbá, em restauração pelo Instituto, para ali implantar um novo Espaço Cultural para a cidade. Essa entidade trabalha pela preservação do Pantanal e tem adquirido terras na região, transformando-as em reservas permanentes, uma iniciativa realmente maravilhosa.
Visitamos ainda outro bioma de serra, a Serra da Bodoquena, onde contamos com o apoio da Prefeitura Municipal de Bodoquena e do casal Acylino e Regina, proprietários do Hotel Fazenda do Betione. Visitamos a Fazenda Boca da Onça, onde fomos recebido pelo Roni, que nos levou ao topo e depois ao pé da Cachoeira da Boca de Onça, uma queda d’água de 170 metros. Conhecemos ainda a criação de Guzerá**** dessa fazenda, que dispõe de excelentes matrizes dessa raça.
Acylino e Regina nos hospedaram em sua propriedade, que é cortada por um rio transparente com lindas quedas d’água, destacando-se a Cachoeira do Pedrosian. Nos prepararam uma apresentação do grupo de Folia de Reis local e ainda nos apresentaram aos índios Kadwéu. Essa etnia é chamada popularmente de Índios Cavaleiros, pois, no passado, domesticaram cavalos deixados pelos primeiros espanhóis que visitaram o pantanal, tornando-se exímios cavaleiros, o que provocou mudanças em sua cultura, influindo em todo seu modo de vida.
Os Kadwéu usam calça de couro, especial para montaria, ao invés de tangas e criam cavalos e gado bovino. Esses índios foram aliados do governo imperial brasileiro, por ocasião da Guerra do Paraguai, tendo desempenhado importante papel em nossa vitória nesse conflito, o que motivou a doação de 530 mil hectares de terra, feita por Dom Pedro II, a essa tribo. Desses indígenas registramos a produção de cerâmica e a realização de uma pintura típica, que fazem no corpo de seus cavalos. Sua pintura tem caracteres com simbologia definida e reconhecida por eles, sendo assim uma forma de escrita com ideogramas.
Ainda na Bodoquena, Acylino nos levou ao Sr. Luiz, antigo organizador de comitivas*****, que tem o corpo marcado por diversos acidentes que teve no transporte de gado. Ele nos fez uma demonstração da formação de uma tropa com mais de 60 animais. Esse homem muito bem representa a fibra e coragem do boiadeiro de Mato Grosso do Sul, um homem forte que sobrepuja as forças da natureza, tornando-as aliadas.
Terminamos nossa expedição na Fazenda 23 de Março, onde assistimos a uma prova de laço, durante a qual pudemos observar as habilidades dos peões pantaneiros. Também provamos do churrasco tradicional, preparado pelo proprietário João Julio, que nos serviu carne oreada****** e cordeiro, ambos orgânicos, assados à lenha de angico. Essa fazenda, por iniciativa de seu proprietário, cultua as tradições pantaneiras em seu cotidiano e, em breve, será objeto de um artigo nesse blog.
Retornamos do Mato Grosso do Sul com farto material, eu com cerca de 1.500 fotogramas e o pessoal do Canal Rural com 13 horas de gravações. Isso possibilitará o registro da rica cultura desse Estado, numa iniciativa que pretende preservar, valorizar e divulgar o Patrimônio Cultural Imaterial do povo sul-mato-grossense, o que nos será possível graças aos nossos patrocinadores e ao incondicional apoio do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
Agradecemos especialmente à Fátima, da Aguas do Pantanal, que foi imprescindível ao sucesso dessa expedição, e a Adélia,Terezinha e Fernando, da Fundaçao de Turismo de Mato Grosso do Sul.
Ao Sr. André Puccinelli, Governador do Estado, ficamos eternamente gratos por sua inestimável ajuda ao projeto Brasil Boiadeiro e apoio à cultura popular local, cuja riqueza de costumes e tradições engrandecem ainda mais nosso Brasil.


* Camalote - nome popular de uma planta aquática flutuante do Pantanal.
** Chinchado - Preso à chincha. Chincha é um tipo de cinta com argolas colocada sobre os arreios dos cavalos, na qual o cavaleiro prende a extremidade final de seu laço ou corda para puxar ou sustentar algo laçado ou preso à outra ponta.
*** Nelore - Raça bovina, adaptada ao Brasil, mas de origem indiana, originalmente denominada Ongole.
**** Guzera - Raça bovina, adaptada ao Brasil, mas de origem indiana, originalmente denominada Kankregi.
***** Comitivas - Grupo de peões transportando boiadas. As comitivas ainda são frequentes no Pantanal. O gado é tocado, numa marcha lenta, podendo este pastar durante o trajeto.
****** Carne Oreada - Tipo de carne salgada e depois seca, normalmente pendurada em varais ao sereno da noite.